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25 de Abril de 2024
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    Teoria da (Im)previsão

    Publicado por Espaço Vital
    há 4 anos

    Filha de um grande jurista já falecido, a advogada recém formada - buscando orientações sobre o rumo que deveria dar à sua carreira - resolve procurar uma cartomante. Esta, além de tarô, jogava búzios, era astróloga, vidente, médium e ainda trazia a pessoa amada, de volta, em três dias.

    Com toda essa titulação, a esotérica recebe nossa advogada com uma voz sombria:

    - Eu fui avisada de que você viria aqui.

    Ao ver a cara de pavor da doutora, a cartomante esclarece:

    - Sua mãe, que é minha cliente antiga, me ligou dizendo que você viria. O que você deseja conhecer?

    - Quero saber sobre a minha carreira. Onde estarão as boas oportunidades para os advogados, no futuro próximo?

    E então, a taróloga entra em transe. As cartas caem de suas mãos e ela alerta que o espírito do grande jurista pai da consulente está presente e deseja fazer contato com a moça.

    A médium, então, começa a balbuciar palavras com muita dificuldade. A advogada toma nota do que consegue compreender e que é apenas o seguinte: “Rebus sic stantibus. Imprevisão! Convide dezenove! Morta, morta! Corona, corona!”

    - Uau! Que experiência! – suspira a advogada.

    - Essa mensagem faz sentido para você? – indaga a exotérica.

    - Todo advogado conhece a cláusula rebus sic stantibus, segundo a qual as condições podem ser revistas, se fatos extraordinários e imprevisíveis modificarem o equilíbrio do contrato trazendo desvantagem a uma das partes. É a teoria da imprevisão. Eu acho que meu finado pai está sugerindo que eu convide 19 colegas e abra um escritório especializado em revisionais de contrato, pois em breve acontecerá um fato imprevisível.

    - E quando ele diz “morta” e “corona”?

    - Acho que ele quer dizer que está me dando, a morta, ou seja, a barbada. É uma gíria! E que se fizermos isso vamos ter muito sucesso e comemorar com uma cervejada - responde a novel doutora.

    - Se você diz... – pontua, reticente, a cartomante.

    Pouco tempo depois, a jovem advogada segue os conselhos - vindos do além - de seu falecido pai e abre uma grande banca de advocacia especializada em revisionais de contrato, pouco antes de estourar a pandemia de coronavírus. O escritório tem, então, uma ascensão meteórica diante da necessidade generalizada da se renegociar contratos e rever cláusulas.

    Entusiasmada com o sucesso e sem nunca esquecer as palavras póstumas de seu pai, a advogada sai para comemorar, mas ao desrespeitar a quarentena acaba contraindo a Covid-19, vindo a falecer, em seguida.

    Ao deixar seu corpo, a alma da jovem era aguardada pelo espirito de seu pai. Ela então fita-o nos olhos e desabafa:

    - Papai, me desculpe. Você quis ajudar, mas só agora entendi sua mensagem.

    - É... Você aprendeu bem sobre a teoria de imprevisão. Na próxima encarnação vamos trabalhar melhor a hermenêutica. Você acha mesmo que eu usaria a expressão “dar a morta”? Data maxima venia!

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/teoria-da-im-previsao/828079768

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