O poder das exclamações
O significado das formas de exclamação extrapola o limite da semântica, isto é, do sentido das palavras, e ingressa na pragmática, ou seja, no sentido que advém do contexto. A própria formação da palavra exclamar (ex = para fora; clamar = chamar com vigor) denuncia seu significado: externar com vigor, com força.
Todas as palavras, expressões ou frases usadas para exclamar têm em seu final um ponto de exclamação, elemento que caracteriza para o leitor a intenção de exclamar, de dizer com força, com emoção, com ironia ou com qualquer outro sentimento que as palavras sozinhas não conseguem expressar. Aliás, a mudança na leitura oral já se dá no início das frases exclamativas, razão por que a língua espanhola começa as exclamações com ponto de exclamação virado, assim como faz com o ponto de interrogação.
Verifique o leitor se não é isso que acontece nestes casos: Oh! Ah! Ih! Olá! Que tal! Quanta insensatez! Que erudição! Como eu te amo! Como é grosseiro esse cidadão!
Há situações em que o uso da pontuação final é que define se é exclamativo ou afirmativo: É um gênio! / É um gênio. Optando pelo uso do ponto-final, é uma afirmação em que o autor realmente crê. Se a opção é pelo ponto de exclamação, traz-se significado contextual, de ironia, uma figura de linguagem em que se inverte o sentido primário da frase.
Existem muitas palavras cujo significado varia de acordo com o contexto. Tão, por exemplo, pode ser elemento usado em comparações: tão inteligente quanto astuto. Pode também ser recurso a ser usado nas exclamações: Ele é tão esperto! Neste último exemplo, o uso do ponto de exclamação é imprescindível; não seria caso se trocasse tão por muito: Ele é muito esperto. Recomendo parcimônia no uso do ponto de exclamação, que somente se justifica quando há a clara intenção de expressar exclamando e de interferir no significado, devendo ser harmonizado com palavras adequadas.
Conclusão: A pontuação é recurso importante, mas perigoso. Quem escreve precisa dominar por completo as funções e o significado de cada símbolo, sem deixar de levar em conta o contexto em que é usado; pode atribuir extraordinário vigor ao sentido que se quer expressar, como pode destruí-lo.
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