A ordem dos fatores altera o produto
Ainda pequenos, aprendemos nas aulas de Matemática que “a ordem dos fatores não altera o produto”. De fato, na soma de dois diferentes números, não importa a ordem em que estejam, o resultado é sempre o mesmo: 2 + 3 = 5, assim como 3 + 2 = 5. No entanto, esse princípio matemático não se aplica às línguas, em que a ordem dos fatores pode alterar em muito o produto. Vejamos:
Grande advogado X Advogado grande
Bela advogada X Advogada bela
Boa secretária X Secretária boa
Bom velho X Velho bom.
Os exemplos mostram que a inversão na ordem do substantivo em relação ao adjetivo altera em muito o significado produzido, constituindo importante recurso para quem se comunica. Essa mudança de sentido é inferida graças ao senso-comum, à pragmática, não advindo do significado primário das palavras.
É padrão da língua portuguesa que o substantivo preceda o adjetivo, ao contrário do inglês, por exemplo, que tem o inverso como padrão: o inglês diz QUENTE CACHORRO (“hot dog”), enquanto o português usa CACHORRO-QUENTE. É a quebra desse padrão que gera a mudança no significado, que pode ser mais ou menos marcante; no primeiro exemplo acima, a alteração parece ser maior do que no último.
Em regra, para ser lícito quebrar esse padrão tem que haver uma razão, em especial de significado. Importante: essa razão tem que ser compartilhada com o interlocutor, o que se chama de senso-comum. Não havendo razão, não se pode alterar a ordem padrão; nos exemplos a seguir não se aceitaria a inversão na ordem das palavras: servidor público, deputado federal, secretário-geral, diretor financeiro, juiz substituto, assessor jurídico, prefeito municipal.
Assim são as línguas: muitas vezes lógicas, outras não e outras tantas nem tanto.
Na prática, o Direito também não é como as línguas? Claro, os dois têm algo importante em comum: o uso precede a norma, razão por que não constituem ciências exatas.
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