O surpreendente maranhão
O fato se passa numa audiência criminal de conciliação. O casal havia se separado. Depois disso, o ex-marido teria ameaçado a esposa, o que os leva ao fórum para a resolução da pendenga.
A juíza, conciliadora de reconhecido talento, expõe a vantagem da transação e do consequente arquivamento. A mulher concorda em nome da paz, mas exige que o marido lhe entregue “os meus bens pessoais que ficaram na casa dele”.
O marido, previdente, diz que “não há problemas, inclusive estou com os tais bens em meu carro”. Prontifica-se a buscá-los.
Suspensa a audiência por poucos minutos, o homem vai até seu veículo e volta com uma caixa. Coloca-a no chão e, de seu interior, começa a retirar peças e objetos, colocando-os sobre a mesa. A primeira é uma calcinha “sexy”.
- Lembra-se, foi comprada em Paris? – ele provoca.
A mulher dá de ombros. A segunda peça é o sutiã:
- Sem o porta-seios, a calcinha não teria valor, pegue e faça bom uso – diz o homem.
A mulher continua calada, com a cara amarrada. A terceira peça é... – imagine o leitor.
– Você não iria poder viver sem ele – o homem então coloca em cima da mesa um sugestivo artefato erótico de silicone.
Nesse momento, a mulher explode:
– Guarde isso para você. Isso não é meu... Que absurdo!
Seguem-se palavras de baixo calão, de parte a parte.
– É seu!
– Não é meu!
– É seu, sim senhora. Você até o apelidou de maranhão...
- Mentiroso, safadão, tu é que usavas ele...
A juíza, ruborizada, intervém:
– Tirem o maranhão daqui, ou chamo a polícia.
Ninguém toma a iniciativa e, assim, o maranhão jaz sobre a mesa. A juíza reitera: vai chamar a polícia. É aí que o advogado do marido diz que resolveria o problema: pega o maranhão e, conciliador, o enfia embaixo do próprio paletó.
Assinado o acordo, todos deixam a sala. O advogado do marido imediatamente atira o maranhão na lata de lixo do andar.
Com a azáfama, muitas pessoas vão chegando para saciar a curiosidade. Então chega uma servente:
– O que é que está acontecendo?
Detalhadamente informada, a serviçal se aproxima, pega o maranhão, enrola-o em um jornal e o leva embora.
A partir da semana seguinte, conta a “rádio-corredor” forense que a servente chega sempre ao trabalho com um sorriso nos lábios, exalando felicidade.
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Resumido a partir de um texto do desembargador Gilberto Ferreira (TJ-PR), publicado em “A Justiça Além dos Autos”, editado pelo CNJ (2016).
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