Barbatimão jurídico
Na semana passada, na comarca de entrância final, em processo de divórcio litigioso, o estagiário – que sempre faz minuciosos projetos de sentença - deparou-se, estupefato, em meio às petições, com uma confidência que um dos advogados da causa fizera à sua dileta noiva.
Além de outros quejandos, um trecho revelava assim: “Por ser rica em taninos, a casca do barbatimão é fortemente adstringente, sendo reconhecida pelo uso familiar, que dela fizeram prostituídas mulheres para reparar a relaxação dos órgãos genitais, e para fingirem possuir o que os seus primeiros desacertos fez com que elas perdessem para sempre”.
O texto seguia na tentativa de convencimento: “Basta uma consulta em blogs sobre o mundo vegetal para saber que o barbatimão é considerado a ´casca da mocidade´ ou o ´amigo da mulherada´. Ele é recomendado, dentre outras coisas, para restaurar a virgindade ou coisa apertada que o valha”.
Surpreso com a revelação que logo lhe foi comunicada pelo estagiário, o sempre presente juiz orientou aquele a que convidasse o advogado a comparecer rapidamente no gabinete, “a fim de esclarecer o mal-entendido”. A visita deu-se no mesmo dia e o inquinado trecho da petição foi mostrado ao profissional.
Este desculpou-se, agradeceu pela consideração e se explicou. Na hora, de próprio punho, o advogado requereu que “face ao manifesto erro de copia/cola, seja tarjado todo o trecho compreendido entre a 1ª e a 14ª linhas da sétima página da peça de memoriais (fls. 205)”. Assim, foi feito.
Antes que deixasse o gabinete, impropriamente o advogado resolveu falar mais, como se pretendesse justificar algo: “Doutor, essa especulação de que o barbatimão teria o poder de até recuperar a virgindade remonta ao tempo dos índios. Mas em tempos modernos, não passa de balela – pode crer”.
O juiz apenas estendeu a mão, sinalizando que o assunto estava encerrado e que havia chegado a hora da despedida.
Falastrão, o advogado ficou conhecido, na “rádio-corredor” forense pela alcunha de Doutor Barbatimão.
E só se fala nisso.
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Leia na base de dado do Espaço Vital
· Os riscos do “copia e cola” sem revisão posterior
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