“Senhores advogados, levantem-se!”
Três semanas depois de o novel juiz chegar à comarca, era a primeira segunda-feira com audiências marcadas por ele. Os advogados e as partes foram entrando na sala, sendo surpreendidos por chamativo aviso: “Em estrito respeito ao Juízo, todos deverão levantar-se no momento que o MM. Juiz adentrar a sala de audiências”.
Para completar o contexto de estímulo à juizite, quando o magistrado entrava, a escrivã se punha de pé, batia rápidas palmas e disparava: “Levantem-se todos, por favor”.
A “determinação” (?) vigorou por três dias, mas já na quinta-feira, a Subseção da OAB lançou crítica, afirmando que “os advogados não estão obrigados a cumprir tal abusiva, canhestra e obliterada exigência”.
O cartaz oficial foi, então, substituído por outro mais moderado, mas ainda assim verborrágico: “Solicita-se, nesta sala, a manutenção, por todos aqueles que fazem parte da solenidade, de condutas desejáveis”.
Os advogados combinados – e após instruírem seus respectivos clientes – seguiram todos não se levantando quando o juiz chegava, mas proferindo-lhe, sempre, mensagens cordiais de “bom dia”, ou “boa tarde”, retribuídas apenas com maneios da cabeça.
O magistrado deu, então, outra conformação ao perfil: passou a presidir, de pé, as audiências, sempre repetindo que “esta posição é parte da liturgia, em fazer do ato processual uma solenidade, para que as pessoas sintam a seriedade”.
Seguiu o tititi na comarca por mais uma semana, até que a Corregedoria recomendou ao juiz que desistisse da ideia. Foi assim, então, que na semana seguinte, ele desistiu de ficar de pé, passando a sentar-se num recém adquirido, caro, confortável e luzidio cadeirão azul turquesa, último tipo.
Não faltou a aposição de um discreto adesivo: “Poltrona de uso exclusivo do MM. Juiz”.
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