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27 de Abril de 2024
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    Futebol e calor

    Publicado por Espaço Vital
    há 12 anos

    Por Rafael da Silva Marques,

    juiz do Trabalho,da 4ª Vara de Gravatai.

    Há dois anos decidi, em um processo movido pelo sindicato dos atletas, impedir jogos de futebol no RS em razão do calor. Houve partidas jogadas com calor superior a 43 graus. Os fundamentos da decisão levaram em conta da dignidade do trabalhador atleta de futebol.

    É difícil de dizer, hoje, o tamanho da repercussão daquela decisão. O certo é que a imprensa, em especial aquela que domina e, também, quando quer brinca com as notícias no RS, atacou além da decisão, a minha pessoa, dignidade etc. O fundamento era que havia horário para os jogos e que, por exemplo, depender do tempo era temerário.

    O pior - como eu não quis dar entrevista - a repercussão foi ainda mais negativa no seio da imprensa. Cheguei a ouvir que eu queria aparecer, mesmo sem dar entrevista.

    O que me mostrou estar correta a decisão, na época, foi que as pessoas, os trabalhadores reais, aqueles que, no dia a dia, circulam pela cidade quente e que estão fora dos escritórios bem temperados, como pedreiros, garçons, porteiros, entenderam o que foi decidido. Eles sofrem com o calor... por isso sabiam o que a Justiça do Trabalho estava decidindo.

    No mais, a crítica, fruto da opinião da imprensa, foi destrutiva. Cheguei a ler: eles recebem milhões e podem trabalhar no calor. Como se o Bill Gates pudesse, ele, trabalhar a 43 graus porque tem dinheiro. Registro que 90% dos atletas recebem até R$ 1.600,00, menos que a média salarial brasileira que é de R$ 1.900,00.

    De outro lado, a dignidade do trabalhador, ao que parece, não é do interesse da imprensa ou mesmo da FGF. É difícil, no Brasil, dominado por padrões conservadores de formação de opinião pública, reconhecer no outro o próprio eu. No RS, vale mais o que dizem o jornal a, a rádio b, mais o valor do dinheiro do que padrões simples de igualdade e fraternidade.

    Agora me deparo eu com partidas de futebol a quase 40 graus outra vez. Uma partida em Porto Alegre onde a grama sintética aumenta ainda mais a temperatura e faz dos jogadores - que são pessoas, cidadão e, ainda, pagadores de impostos - carne cozida para manter o dito horário de jogo e os contratos televisivos.

    rmarques@trt4.jus.br

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    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/futebol-e-calor/3027951

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