Como nascem sentenças
Em busca de um (a) estagiário (a), a Subseção da OAB recebe inscrições de 20 jovens. Cumpridas as etapas iniciais e examinados currículos, certidões, etc., ficam dois finalistas disputando a vaga única.
O presidente e o tesoureiro da Subseção convidam um conselheiro seccional para ajudá-los na decisão final sobre a contratação.
A moça de 22 anos, bem vestida, eloquente, vai respondendo com galhardia aos questionamentos. Como o conselheiro seccional não tivesse tido anterior acesso ao currículo, há um "pingue-pongue" verbal dele com a candidata.
- Onde você trabalha atualmente?
- No foro estadual, no gabinete da juíza, doutor.
- E o que você faz?
- Ah, entre outras coisas, eu redijo as sentenças. Essa é a tarefa básica da estagiária não remunerada, como eu.
- E a juíza naturalmente lê esses projetos de sentença...
- Neste momento ela não lê. A leitura, para fins de aprovação do que eu faço, é incumbência do estagiário remunerado.
- E não há assessor lotado no gabinete?
- Sim, há, mas a tarefa do assessor é decidir os embargos de declaração que são frequentes.
Os três advogados trocam olhares que são uma espécie de senha para agradecer e dispensar a candidata.
A Subseção termina contratando o outro finalista: um estagiário pobre, sem vivência forense, órfão de pai e arrimo na ajuda à educação dos irmãos menores.
* * * * *
Há perplexidade quando o plenário do Conselho Seccional toma conhecimento do caso. Uma voz indaga estupefata:
- É a comprovação testemunhal da estagiariocracia?
- Sim! - responde o conselheiro.
Uma outra voz quer saber um detalhe circunstancial:
- E a estagiária que não foi contratada, o que é feito dela?
- Continua firme no foro, dando sentenças - arremata o conselheiro.
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